O que é bioconstrução

Em 2007, eu e minha companheira na época abraçamos a ideia de construir nossa própria casa em um lote da Ecovila Clareando, em Piracaia.
Fiz vários cursos, mas a obra da nossa ex-casa foi minha verdadeira escola: 5 anos de construção errando, tentando, aprendendo, observando, fazendo, refazendo. Participei pessoalmente de todas as etapas: do alicerce ao telhado, da hidráulica e da elétrica, do tratamento de esgoto e do jardim.
Testei o que pude testar: adobe, superadobe, cob, pau a pique, cordwood, ferrocimento, Tijolos de solocimento, pedra, garrafas, alvenaria convencional… Cada parede teve uma história e uma vida. Cada parede foi uma mestra e uma companheira.
Depois disso, participei ainda de várias outras obras. Trabalhei, dei palpites, acompanhei outras casas que se iam erguendo à minha volta. Vi coisas lindas e terríveis. Vi coisas falsas, vi “posers” querendo parecer o que não eram, vi solidariedade, vi tesão, vi desencanto.
Fui – e continuo sendo – facilitador de vários cursos aqui no Sítio Pau Dágua, onde atualmente estamos construindo uma moradia coletiva.
Recebi voluntários para trabalhar em outras obras, partilhei o que sabia e fiquei mais jovem com o frescor das novas mãos sujas de barro que encontrei pelo caminho.
Depois de mais de 10 anos, me acostumei a pensar mais na bioconstrução e cheguei a algumas opiniões que quero partilhar.
O mais importante é que faço uma distinção entre Bioconstrução e Construção com barro ou com materiais naturais.
Para mim, o BIO, da bioconstução não se refere aos materiais, mas ao modo como aquela construção ocupa um lugar orgânico na VIDA de seus construtores. O BIO está nas mãos, e não no barro.
Daí que a casa não se separa de jeito nenhum da vida de seus moradores. A casa meio que emerge da vida que quer viver lá dentro, A casa expressa essa Vida que já não cabe no concreto, na Bolsa de Valores, no trabalho urbano sem sentido. A Vida e o corpo dos moradores são o prumo e o esquadro da casa: são a referência, a medida, o fim e o critério.
Por isso, Bioconstrução é sempre autoconstrução. Você pode encomendar para que alguém te faça uma casa de pau a pique, mas não será uma Bioconstrução. Falta-lhe a Vida. Falta-lhe receber no barro as pequenas gotas de sangue de seus dedos cortados pelo bambu da trama e que, de fato, fazem daquela massa uma coisa viva: um Bios.
A bioconstrução, como processo, se dá no ritmo da vida, olhando a particularidade de cada situação. Nenhuma massa de barro é igual à anterior. Nenhuma parede é como a outra. Uma bioconstrução não se constrói: se modela. Uma bioconstrução se tece como quem tece a vida, no tempo do corpo, no tempo sentido, no calor das mãos.
A Casa de Barro, essa outra comprada ou mandada fazer, também tem seu valor. Mas Bioconstrução é quando, depois de uns anos você olha aquela parede e ainda está enamorado dela. Depois de tanta história, você desperta de manhã e diz sorrindo: “Bom dia, Casa. Vamos para mais um dia?”

Por Edilson Cazeloto

permacultor-responsável pelo Sítio Pau d’Água