7 maneiras de (re)pensar a economia do século 21

A pandemia provocada pelo novo coronavírus tem gerado uma grande inquietação global: o que vai acontecer com a economia depois de tudo? As ideias da economista Kate Raworth, publicadas no livro Doughnut Economics: Seven Ways to Think Like a 21st Century Economist, são uma luz incandescente no fim do túnel, pois apontam caminhos novos para a humanidade trilhar. Não há como não reconhecer semelhanças e similaridades entre suas ideias e o que a permacultura e, mais recentemente, a Agrofloresta, já professavam.
A conclusão mais importante é que precisamos mudar nossa mentalidade de como pensamos a economia, como um sistema que precisa crescer infinitamente, consumindo nosso recursos naturais a qualquer custo – e ampliando cada vez mais a desigualdade entre as pessoas. Ela propõe um novo modelo em que o que se leva em conta são as necessidades básicas das pessoas, com novas formas de utilizar os recursos ambientais.

A gente está publicando as 7 ideias apresentadas por ela e que estão na página do Youtube Doughnut Economics.

 

1. Mudar os objetivos
https://www.youtube.com/watch?v=Mkg2XMTWV4g

No século 20, a economia perdeu seu propósito e começou a perseguir o falso objetivo de crescimento do PIB. Em décadas recentes isso levou ao aprofundamento da desigualdade em muitas sociedades e está nos levando ao colapso ecológico.
Este século pede um novo objetivo: atender as necessidades de todos, respeitando os limites do planeta.
Chegou a hora de entrar para o “Donut”: o espaço seguro e justo para a humanidade. Não é uma tarefa fácil. Já que hoje bilhões de pessoas não tem suas necessidades básicas atendidas, com comida, energia, moradia, saúde, educação. E mesmo assim, coletivamente já colocamos pressão além do suportável em alguns dos sistemas mais críticos para sustentar a vida na Terra, levando a ruína do clima e da biodiversidade.
O que fizermos no planeta nos próximos 50 anos vai refletir pelos próximos 10 mil anos.
Vamos trocar o objetivo do século passado, de crescimento infinito pelo objetivo de prosperar dentro de um equilíbrio.
Se quisermos ter uma chance de chegar a esse objetivo, qual pensamento econômico pode  dar conta desta missão?

2. Conte uma nova História
https://www.youtube.com/watch?v=V2vN_fu-wns

Em abril de 1947, um grupo de economistas se reuniu em um vilarejo da Suíça para escrever planos para uma nova história para economia global e a chamaram de Neoliberalismo.
Seu método foi engenhoso: descreveram cada ator econômico com um conjunto tão poderoso de características que o restante da história se definiu praticamente sozinho. Nos anos 1980, quando essa história liberal finalmente ganhou holofotes mundiais, a trama já estava armada desde o começo. Assim, nos últimos 40 anos, nos contaram o seguinte: o mercado é eficiente, então deixe-o seguir livre. O Estado é incompetente e não deixem que se intrometa. O comércio internacional é ganha ganha, então abram suas fronteiras. Os bens comuns são uma tragédia então vamos vendê-las. A sociedade é pura ficção, então ignore-a. O lar é doméstico, então deixe para as mulheres. Com um elenco desses, o triunfo do mercado parecia praticamente inevitável. E é ele que nos tem arrastado para uma crise social e ecológica.
Também nos contaram que as finanças são infalíveis, mas isso foi tão claramente desmentido pela crise financeira global, que todo o resto da história também está sendo questionado.
Está na hora de jogar fora esse roteiro neoliberal ultrapassado.
Precisamos de uma nova história econômica que sirva para o século 21, um que ponha a economia a serviço da vida.
Então como essa história deveria começar?

 

3. Nutra a Natureza Humana
https://www.youtube.com/watch?v=SOKHWOMVMyo

Quem a economia diz que somos? Para fazer a Humanidade se encaixar em suas teorias, os economistas do século passado criaram o Homem Racional Econômico. Ele se vê sozinho, com dinheiro na mão, uma calculadora no lugar da cabeça, ego no lugar do coração, e a Natureza a seus pés. Ele detesta o trabalho, ama o luxo, tem desejos insaciáveis e sabe o preço de tudo. Mas eis o problema: por nos dizerem que nós somos como ele; nós de fato, nos tornamos mais parecidos com ele.
Pesquisadores descobriram que quanto mais os estudantes de Economia estudam o Homus Economicus, mais egoístas e individualistas se tornam.
O Homem Racional Econômico está destruindo nossas sociedades e o mundo natural. Nós não podemos mais simplesmente ficar olhando para essa imagem. É por isso que chegou a hora de colocarmos uma outra representação da humanidade no centro da economia. Uma que reconheça que nossos cérebros estão programados para a empatia, cooperação e ajuda mútua. Que, em vez de serem fixos, nossos desejos mudam, conforme mudam nossos valores. E que longe de dominarmos a Natureza, somos profundamente dependentes dela.
Partindo desta nova representação da humanidade, como a economia pode começar a nutrir a natureza humana e nos dar uma nova chance de prosperarmos muito mais no século 21?

 

4. Aprenda sobre pensamento sistêmico

https://www.youtube.com/watch?v=mNUMkPltnnE

No século 19, um grupo de economistas queria transformar a economia em uma ciência tão respeitável quanto a física. Então inspirados pela Lei de Newton, que descreviam com tanta precisão os movimentos dos planetas, eles buscaram leis econômicas para explicar os movimentos dos mercados. Mas ao tentar transformar suas leis em matemática, eles chegaram em modelos baseados em equilíbrio – modelos com pouca capacidade de prever e, muito menos de responder, às explosões e crises do mundo real.
Não se admira que quase ninguém percebesse a crise chegando. É hora de deixar de lado a inveja da física e abraçar a complexidade da economia, com seus crescentes feedbacks, tendências emergentes e repentinos pontos de ruptura. Com esse olhar sistêmico, podemos entender nosso mundo em constante evolução, da ascensão dos 1% de super-ricos ao colapso dos ecossistemas.
É por isso que os economistas do século 21 não se verão como engenheiros, controlando as alavancas da economia, mas como jardineiros, cuidando e dando forma à economia conforme ela evolui. Então vamos tirar nossos capacetes e vestir luvas de jardinagem.
É hora de aprender como funcionam os sistemas. E a pergunta é: como deve ser projetado esse jardim da economia?

 

5. Projete para distribuir

https://www.youtube.com/watch?v=FqnFa0POTpM

Sem dor, sem ganhos. Esse é um mito econômico que tem sido repetido em todo mundo. Que se as pessoas aceitarem crescentes níveis de desigualdade, será melhor para todos no final porque os benefícios do crescimento um dia chegarão para a base da sociedade.
Só que Não.
Em muitos dos países mais ricos do mundo, a distância entre os ricos e pobres é a mais alta nos últimos 30 anos – e vem crescendo na China, Índia, África do Sul (e Brasil). Longe de ser uma etapa necessária para o progresso das nações, o crescimento de desigualdade é uma escolha política – e uma escolha ruim. Na verdade, é uma falha do planejamento econômico – que prejudica todos nós. Então não espere que o crescimento econômico equilibre as desigualdades – porque isso talvez nunca aconteça.
Economias que têm a exclusão como padrão precisam se tornar distributivas. Isso significa ir além de redistribuir a renda para também distribuir a riqueza, especialmente a riqueza que vem do controle da terra, dos mecanismos de criação de dinheiro, do controle dos negócios, da tecnologia e das ideias.
Neste século temos a chance de incluir a redistribuição no coração das nossas economias – se decidirmos fazer acontecer.

 

6. Crie para Regenerar

https://www.youtube.com/watch?v=XcgcMpgbNHA

Por 200 anos, a atividade industrial se baseou no desenho degenerativo. Nós pegamos matérias-primas da Terra, transformamos em coisas que queremos, usamos por algum tempo e depois jogamos fora.
Pegar – Fazer – Usar – Descartar
É um sistema de mão única que vai na direção contrária à vida e está devorando os recursos que o sustentam. A teoria econômica vigente nos diz para não nos preocuparmos – diz que mais crescimento é necessário para que os países consigam resolver as coisas. Mas em escala global isso simplesmente não é verdade, e os impactos estão destruindo os sistemas que mantém a vida na Terra, dos quais tantos dependemos.
Não podemos esperar o crescimento resolver as coisas, porque ele não vai. Precisamos transformar a economia que temos hoje, degenerativa por definição, em uma projetada para ser regenerativa. Que funcione com energias renováveis. Que transforme resíduos de um processo em insumos para o seguinte para que as coisas nunca virem lixo, mas sejam usadas outra e mais outra vez.
E nisso tudo, economistas do século 21 têm um papel crucial: cultivar o potencial dos negócios e das finanças, dos bens coletivos e do Estado, e da natureza humana para fazer florescer esse futuro regenerativo.

 

7. Seja agnóstico sobre crescimento

https://www.youtube.com/watch?v=5zkqGEaztRM

No século 20, o crescimento do PIB se transformou no principal objetivo das políticas econômicas. Tanto que governos, empresas e mercados financeiros passaram a esperar, demandar e depender dele continuamente. Mesmo nos países mais ricos do mundo. Políticos prometendo um futuro melhor, oferecem um crescimento verde, crescimento inclusivo, inteligente, resiliente ou crescimento balanceado – Escolha qualquer futuro que desejar, desde que escolha o crescimento. Assim, nós temos economias que precisam crescer, nos fazendo prosperar ou não.
Enquanto o que nós precisamos são economias que nos permitam prosperar, independente se elas crescem ou não.
Economias que são desenhadas para terem muito mais distribuição de valor criado e regenerativas, trabalhando com – e não contra – os ciclos do meio ambiente.
Economias nos quais o PIB  – o simples custo total de tudo que é vendido no mercado – pode variar, às vezes subindo, às vezes descendo. Como resposta à realização dessa transformação.
Então o que seria necessário para tornar isso possível?